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Caminho

Olhos Verdes tropeçou. Deu um grito sofrido. O menino correu para socorrê-la. “Não sei o que fazer para doer menos”. Olhos Verdes enxugou a lágrima e sussurrou algo em seu ouvido. Ele estranhou a prescrição mas se abaixou e deu um beijo bem de leve no pé machucado. “Melhorou”. O menino estava ainda cético. Depois de tanto andarem, tinha dificuldade de lembrar de como era a vida na sua cidade, e não acreditava muito em coisas que lhe contavam. “Parece que não sarou nada…”. Olhos Verdes retrucou: “Não sarou aí…” - apontou o pé. “Mas sarou um pouquinho aqui” - os olhos brilharam ao trazer o indicador ao peito. Ela sempre tinha algo a lhe ensinar, sem precisar de complicadas explicações.

O caminho era difícil, acidentado, e o menino não podia imaginar o que faria sem a sabedoria de Olhos Verdes. Mas ela ficou sentada, desanimada. “Para onde vamos agora? Continuar pelos tropeços? Às vezes queria ter uma calçada”. Abaixou a cabeça e chorou seu choro manso e carregado. O menino ficou triste, sem saber como animá-la. Ficou com raiva das pedras, do caminho, do Mundo todo. Chutou uma pedra sem se importar com a dor no dedão. Frustrado e sem ânimo, notou algo um pouco adiante, foi conferir e teve uma ideia que lhe reacendeu um sorriso.

– Olhos Verdes, não chore, veja!

Estendeu as mãos em concha cuidadosamente carregando algo.

– Nas calçadas não nascem flores tão belas como essa!

Uma pequena flor vermelha em seu torrão de terra encheu os olhos verdes. O menino sorriu e cuidadosamente replantou a flor. Estendeu a mão suja de terra a Olhos Verdes e a ajudou a se levantar. “Vamos andar até a próxima curva. Quem sabe não encontramos mais flores? Ou um mar? Mesmo que seja só mais pedras, podemos desabrochar entre elas como essa flor”. Olhos verdes sorriu e concordou. O plano era bom, e não havia de ter medo, estando juntos. Seguiram de mãos dadas, confiantes no amor que os mantinha juntos.


Nota (2019-04-28): Escrevi esse texto há mais de 3 anos. É gostoso reler depois de tanta coisa ter acontecido desde então. De certa forma ele continua muito relevante, mas as flores que já colhemos nesse caminho!

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